sábado, 22 de julho de 2017

Trekking no Peru (Parte 3) - Cusco e o Vale Sagrado

2º Dia - Cusco

Vale Sagrado


Após nosso almoço, continuamos o passeio por Cusco, olhando o mapa vimos que a fortaleza de Sacsayhuaman estava praticamente ao lado, era só caminhar pela rua Calle Palacio e Pumacurco e estaríamos lá. Por que não ir?
Começamos a caminhar pela currutela Calle Palacio, de calçadas extremamente estreitas e cercada por casarões antigos com restaurantes e lojinhas. No meio do caminho encontramos mais uma capela chamada San Antonio Abad, uma igreja menor que as outras que visitamos, mas mesmo assim muito bonita, suas paredes rústicas feitas de pedras, a enorme porta de entrada de madeira cravejada por pregos grandes, um estilo bem medieval de construção. Estávamos na Plazoleta de las Nazarenas, foi lá que conseguimos tirar uma foto de uma mulher peruana carregando flores nativas nas costas para vender.
Igreja San Antonio Abad
Vendedora de flores
Ainda faltava um longo caminho pela frente, o sol estava muito quente, continuamos subindo a rua, sempre em frente, vez ou outra um carro passava apertado pela rua estreita, nos fazendo se esgueirar na minúscula calçada. A vantagem daquele caminho era que podíamos aproveitar bem as sombras dos casarões enquanto subíamos o morro.
Rua Calle Palacio
Conforme subíamos percebemos que os padrões de construção das casas foram decaindo e que quanto mais caminhávamos para cima daquele morro, mais pobre parecia o local.
Bairro mais pobre da rua Calle Palacio
Tínhamos chegado no final da rua, onde encontramos um bar que era também um mercadinho, ao chegarmos na rua de frente a entrada do forte encontramos também lojinhas de suvenires. Subimos umas escadarias para chegar, só faltava atravessar a rua e comprar nossos tickets de entrada, mas foi nesse momento que fomos surpreendidos por um senhor que, dizendo ele, tinha um passeio mais bonito e em conta. O senhor nos ofereceu um passeio a cavalo com guia até o Templo da Lua (Templo de La Luna), ou Chukimarca, depois passaríamos pela Zona X, de lá iríamos para o Cristo Blanco e por fim terminaríamos em Sacsayhuaman, tudo isso a um preço de 120 soles por pessoa. O homem foi tão persuasivo que acabamos caindo em sua lábia e aceitamos o passeio. Entramos em uma carro que estava estacionado um pouco mais distante da entrada de Sacsayhuaman e ele nos levou até a entrada de uma chácara que fica atrás das ruínas do forte inca. Ainda desconfiados, entramos na chácara e encontramos mais turistas que compraram o mesmo passeio, lá subimos em cavalos e conhecemos nosso guia, um garotinho que deveria ter uns 15 anos de idade.
Subimos por uma trilha de cascalhos, margeando eucaliptos a esquerda, em fila indiana, a frente um grupo de turistas com sua guia e logo atrás nós.
Trilha para o Templo de La Luna
Cavalgamos por algum tempo até encontrar uma rodovia, que estava um pouco movimentada, carros e ônibus de turistas passavam com frequência, aproveitamos um momento de calmaria e atravessamos com os cavalos rapidamente, os animais eram bem calmos e já estavam acostumados com aquele trajeto. Entramos em um campo verde do outro lado da pista e cavalgamos seguido um córrego, a paisagem já se mostrava exuberante.
Paisagem
Era por lá que encontraríamos as ruínas do Templo de La Luna, cavalgando por meio das planícies verdejantes vimos crianças brincarem nas águas do estreito rio que nos seguia e a paz daquele local nos contagiou. Paramos no meio do caminho, nosso guia segurou nossos cavalos e disse:
- Chegamos!
Descemos dos cavalos, que foram soltos para descansarem e enquanto caminhávamos em direção ao que restou do templo, nosso guia correu para junto das crianças que brincavam na água e, arrancando suas roupas no embalo, mergulhou em um poço. Olhamos para frente e nos deparamos com um morro.
Templo de la Luna
Uma imensa rocha em meio ao campo verde, lá estava o templo de La Luna, no Vale Sagrado Inca. Dizem que o templo era para fertilidade, onde as mulheres que não podiam ter filhos vinham nesta rocha com a esperança de voltarem a ser reprodutivas.
Vale Sagrado
Subimos a rocha por uma escadaria em ruínas, uma leve brisa nos refrescava do calor, a paisagem nos acolhia, um sentimento de união com a natureza a volta, ali nada tinha pressa, não havia preocupação, pude vislumbrar a perfeição da natureza em sua totalidade.
Templo de La Luna
Vista do Vale Sagrado a partir do templo
Ruínas atrás do templo
Em baixo da imensa rocha, no seu centro, vimos uma passagem, nos pareceu uma caverna, mas ainda não sabíamos do que se tratava. Estávamos diante da entrada da câmara do templo, lá dentro apenas uma fissura no teto permite a entrada de luz, dizem que no passado, no período de lua cheia, quando a mesma se encontrava em uma posição específica, um feixe de luz invadia aquela fresta e ia de encontro a uma mesa de pedra que era recoberta de ouro, assim como todas as paredes, esse feixe de luz refletia no metal dourado e iluminava toda a câmara com uma luz cegante. A câmara representava um útero, a entrada era a representação da vagina e aquela fresta no teto era a entrada da nova vida.
Entrada da câmara do templo
Olhamos aquela passagem sem saber do que se tratava. Fiquei curioso com aquela caverna e chamei a Nanda para entrarmos. Não chegamos a conhecer o significado da câmara, pois não tínhamos ideia de toda a história, nos faltou um bom guia.
Câmara sagrada do templo
O tempo que ficamos no templo foi como uma renovação de energia para mim. Sentamos no que parecia ter sido um trono antigamente, ou um altar, e lá ficamos, contemplando a imensidão verde do Vale Sagrado, agradecendo pela oportunidade de estar lá para receber toda a quela energia invisível. As nuvens passeavam pelas nossa cabeças lentamente, a brisa soprava, balançando as flores que cresciam em meio as rochas, os animais ao longe pastavam tranquilamente e tudo estava em sintonia, podíamos sentir o sentido da vida.
Em meio ao Vale Sagrado Inca
Em meio as ruínas do Templo de la Luna

Nosso passeio tinha que continuar, então o guia mirim nos chamou, era hora de partir para outro lugar do vale. Montamos novamente nos cavalos e seguimos o caminho de volta, atravessamos a pista novamente e subimos um morro para chegarmos a Zona X. Descemos dos cavalos e seguimos o guia por uma trilha rumo ao topo do morro de rochas, o garoto nos contou sobre as cavernas da Zona X, sobre as passagens subterrâneas que chegavam até o centro de Cusco, sobre homens a procura de ouro que se perderam e varias outras lendas, mas o que ele não nos contou era que a Zona X foi provavelmente um local onde os Incas extraiam vários blocos de pedras para construir Sacsayhuaman. Entramos em uma das cavernas com ele, caminhando por labirintos de rochas e passando por frestas estreitas, não vimos o trabalho dos incas naquelas rochas, não conhecemos onde foi o possível local de extração das rochas, apenas passeamos pelas cavernas do local.
Entrada da  caverna da Zona X
Passagem da Zona X
Zona X
Ficamos por um tempo no topo da Zona X, vislumbrando a maravilhosa vista do Vale Sagrado, era impossível estar lá e não sentir toda aquela vibração de energias boas. Senti que o lugar era realmente místico.
Topo da Zona X
Vale Sagrado visto da Zona X
Não conhecemos o bastante do Vale Sagrado Inca, ele é muito mais do que o vale da lua e a zona x, mas o pouco que vivenciamos naquele lugar foi maravilhoso, a paz que foi transmitida para nossos corações era transcendente. Saímos do Vale a cavalo, cavalgando de volta a trilha de cascalho para a chácara onde iniciamos o passeio, mas ainda faltava dois pontos prometidos.
Entramos no veiculo que nos levou até lá e seguimos por uma estrada de terra, estávamos a caminho do Cristo Blanco, foi ai que fomos abandonados pelo caminho. O motorista estacionou na beira da pista, abriu a porta e disse em espanhol:
- Daqui pra frente é só seguir a pé que vocês chegarão ao Cristo Blanco.
Olhei ao longe e perguntei:
- E para chegar em Sacsayhuaman? Como fazemos?
- Fica do lado. - Disse ele.
E assim o motorista no deixou lá e foi embora, o contrato de serviço acabara ali. Caminhamos por um bom trecho até chegarmos no morro do Cristo Blanco.
Morro do Cristo Blanco
De braços abertos para a cidade de Cusco vimos uma imensa estátua de 8 metros de altura do cristo, bem parecida com o cristo redentor do Rio de Janeiro. Fiquei sabendo depois que ela fora construída por um artista local chamado Francisco Olazo Allende. Em cima do morro chamado de Pukamoqo, onde na cultura inca é um morro sagrado que guarda todas as terras do império tawantinsuyano, o Cristo Blanco se encontra de braços abertos ao povo de Cusco.
Cristo Blanco
Mais uma vez tivemos a oportunidade de visualizar toda a cidade de Cusco, agora do alto do mirante do Cristo Blanco.
Cusco vista do alto
Um morador local com seu instrumento musical
Após um bom tempo apreciando a vista da cidade, resolvemos descer para a fortaleza de Sacsayhuaman, que se encontra ao lado do Cristo Blanco. Vimos uma trilha ligando o morro à fortaleza e pensamos que por aquele caminho entraríamos normalmente sem ser cobrados, pura ingenuidade. Começamos descendo o morro pela trilha, fugindo de alguns cachorros que brincavam por lá, a Nanda estava com medo deles, assim chegamos no imenso paredão de pedras de Sacsayhuaman, onde largo caminho de pedras nos levou até o topo de entrada do forte, onde fomos abordados por um guarda pedindo os bilhetes de entrada, nesse momento percebemos que havíamos sido enganados e que aquele caminho, apesar de se conectar com Sacsayhuman, não nos poupava de pagar para visitar o local. Como não tínhamos dinheiro suficiente, fomos obrigados a voltar para Cusco sem conhecer a famosa fortaleza de Sacsayhuman.
Entrada de Sacsayhuman
No fim do dia nos restou passear mais pela cidade e conhecer outros locais.
Currutela sem saída na parte pobre de Cusco
Começamos por onde estava mais próximo, que era a Igreja de San Cristobal, localizada na parte alta de Cusco. A igreja é linda e sua localização privilegiada, da praça de San Cristobal, que fica em frente a igreja, tivemos a oportunidade de apreciar a cidade novamente do alto e tirar várias fotos.
Construção Inca preservada na praça San Cristobal
Vista do mirante de San Cristobal
Mirante de San Cristobal
Não entramos na igreja, pois gostamos mais das paisagens de fora e, não me lembro muito bem, mas acho que pelo horário as visitas já tinham se encerrado.
Após conhecermos o mirante de San Cristobal, começamos a descer as escadarias de volta ao centro turístico de Cusco. Vimos vários mochileiros subindo as escadas com suas mochilas pesadas nas costas, havia uma japonesa que sozinha carregava uma mochila maior que ela, e sofrendo, vagarosamente subia degrau por degrau.
Escadarias da cidade de Cusco
No fim da noite jantamos em um restaurante, novamente papas com carne, onde pagamos barato, pois o dinheiro que havia trocado no aeroporto foi pouco, então tivemos que economizar na comida.
A noite esfriou o tempo, sem o sol o frio predominava, então terminamos a noite fria passeando pelos arredores do centro turístico da cidade antes de voltar para o hostel.
Igreja de La Compañia de Jesus
Convento de Santo Domingo
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terça-feira, 18 de julho de 2017

Trekking no Peru (Parte 2) - Conhecendo a cidade de Cusco antes de Salkantay

Estávamos em Cusco, um lugar tão estranho para nós e ao mesmo tempo tão curioso. Chegamos na cidade no dia 2 de março de 2016, passeamos um pouco pelos arredores do hostel em que nos hospedamos, vimos um estádio mal acabado, conhecemos uma praça que leva o nome de Tupac Amaru, jantamos em um restaurante que mais parecia um boteco. Não tínhamos visto nada até então...

2º Dia - Cusco

A Pedra de 12 Ângulos

O dia amanheceu frio, as varias camadas de cobertas grossas na cama que nos aqueceu fizeram muito bem seu trabalho. Ficamos em um quarto privativo do hostel, cama de casal, banheiro privado, um armário e uma televisão, um luxo por um ótimo preço. Acordamos por volta das oito horas, ainda podíamos sentir o leve frio da manhã. Banho rápido em ducha quente, agasalhados e preparados fomos tomar o café da manhã. Nosso quarto estava no primeiro andar, descemos as escadas, passamos pela sala da recepção e entramos na cozinha, onde nossa anfitriã preparava o café da manhã. Havia uma varanda na cozinha onde fomos sentar em uma mesa posta lá, a dona do hostel, não me lembro seu nome, nos trouxe o banquete, café, leite, água quente para o chá, pão sírio, manteiga e geleia, em uma cestinha, vários saches de ervas e folhas de coca, não estranhamos pois sabíamos que lá era costume tomar chá de coca e que o mesmo ajudava a evitar a sensação de cansaço causada pela altitude, logo coloquei as folhas em minha caneca e despejei água quente assim como a Nanda fez, tomamos e percebemos que seus efeitos a primeira vista eram como o da cafeína do café, nada de mais.
Pelo wifi do hostel baixei o mapa offline de Cusco pelo Googlemaps do meu smartphone enquanto tomávamos o café da manhã, assim que terminamos o desjejum nos despedimos da moça e do seu cão, chamado Beluti, e saímos para conhecer a cidade.
O hostel fica em uma área da cidade um tanto que tranquila, por lá não víamos muito movimento de carros, mas foi só chegarmos na rua Pachacutec que notamos o quanto o transito de Cusco é caótico. A maioria dos carros que vimos eram mini versões dos carros que costumamos ver no Brasil, como o Pegeot 107 que mais parece o 207 menor. Com suas buzinas sempre avisando em cada esquina que estavam passando, seus motoristas dirigiam sem se preocupar muito com leis de trânsito. Ao chegarmos na Avenida El Sol, ficamos mais tranquilos, pois as calçadas são mais largas e o movimento de carros parece mais organizado. Foi caminhando na avenida que nos deparamos com nosso primeiro ponto turístico do dia, olhando para as casas enquanto caminhávamos, nos deparamos a nossa direita com um gramado bem verde, cercado por uma grade de ferro que impedia alguém de passar da calçada para lá, ao fundo, algo que parecia um castelo misturado com uma igreja, uma vista linda, digna das nossas primeiras fotos. O sol já havia esquentado, não fazia mais frio algum e fomos obrigados a retirar nossas blusas.
Jardim Sagrado
A paisagem era do Jardim Sagrado, com o Convento de Santo Domingo ao fundo, construída pelos espanhóis em cima do templo Inca Qorikancha. No passado, na era Inca, o centro religioso de Cusco era ali, junto com o centro geográfico e politico da cidade, chamava-se Templo do Sol, pois era neste templo que a civilização inca venerava seu maior deus, o deus sol "Inti". No significado Inca o nome "Qori" significa ouro e "Kancha" significa lugar fechado.
Do Jardim sagrado caminhamos até o final da avenida e na esquina avistamos a Plaza De Armas (Huacaypata), a praça mais famosa de Cusco. Foi nesta praça que o colonizador espanhol Francisco Pizarro declarou a conquista da cidade, que após sua conquista, sobre os palácios incas ao redor, foram construídos templos católicos e mansões. Tupac Amaru II foi executado nesta praça.
Plaza de Armas e Catedral de Cusco

Olhando para a Catedral de Cusco fomos adentrando em direção a praça, mas logo na esquina uma senhora no abortou oferecendo chaveiros, pulseiras e pacotinhos de folha de coca. Educadamente passamos os olhos em seus penduricalhos e eu resolvi comprar um saquinho de folhas de coca para levar na trilha que estávamos prestes a fazer. Tirei 3 soles do bolso e entreguei a senhora que me entregou a mercadoria com um sorriso no rosto.
O lugar, para nós, é espetacular. A grandiosidade dos templos em volta da praça nos fazia sentirmos pequenos. Eu estava maravilhado com a vista de todas aquelas construções peculiares, percebi que templos católicos tem a mesma presença em Cusco ou no Brasil, são inconfundíveis. A praça foi palco para muitas fotos mais.
Catedral de Cusco
Construções ao redor da Plaza de Armas
Plaza de Armas e Igreja de La Compania de Jesus
Após as fotos, como havíamos combinado com a agencia de Trekking que iríamos realizar o pagamento do pacote no dia seguinte da nossa chegada a Cusco, fomos até lá. Não ficava longe da Plaza de Armas, duas quadras ao lado, chegamos na Plaza Regocijo e de lá pegamos a rua Santa Teresa, que é a rua onde fica a agencia ViajesCuscoPeru.
Rua Santa Teresa
Entramos na agencia e fomos atendidos por uma moça muito simpática chamada Eliana, a mesma que troquei e-mails quando estávamos no Brasil, nos apresentamos e a moça nos disse que se quiséssemos, poderíamos incluir no pacote a subida a montanha Machu Picchu, pois a montanha Huayana Picchu já estava lotada para o dia. A cidade de Machu Picchu fica entre essas duas montanhas e, como ela explicou, a montanha de Machu Picchu é a mais alta. Mostrando as fotos da vista la de cima, ela nos convenceu a pagar 10 soles a mais para cada. No final, quando tudo já estava assinado e pago, Eliana nos pediu que viéssemos novamente a agencia na noite do dia anterior a saída para recebermos as informações iniciais sobre nossa aventura. O clima já era de muita empolgação e ansiedade.
Saímos da agencia e resolvemos passear mais, caminhamos até o final da rua Santa Teresa e encontramos mais uma igreja com o mesmo nome da rua, Igreja Santa Teresa, onde ao lado esta o Parque de La Madre, lugar para mais fotos.
Igreja Santa Teresa
Por onde caminhávamos sempre encontrávamos uma igreja, ou convento católico, sinal da imposição do catolicismo pelos espanhóis ao povo inca.
No mapinha que tinha em mãos, vi que um dos pontos turísticos que queríamos conhecer, chamado de Pedra de Doze Ângulos, ficava próximo de onde estávamos, em uma rua chamada de Hatunrumiyoc, ao lado da Plaza De Armas. Não tínhamos ideia do que era a Pedra de Doze Ângulos, eu achava que era algum monumento, onde quando chegássemos ao local já veríamos, então resolvemos ir até lá.
Caminhamos, tiramos mais fotos e caminhamos.
Vista da Catedral de Cusco
Entrada da Catedral de Cusco
As pedras quentes das estradas de Cusco nos deixava ainda com mais calor, já era quase hora do almoço, passeávamos olhando as lojinhas que vendiam de tudo para turistas, chaveiros, gorros, luvas, bebidas, presentes e roupas de lã de alpacas. Entramos na rua estreita de Triunfo, ao lado da catedral, sua sombra aliviava o calor, na pista de mão única, onde era impossível passar um carro ao lado do outro, uma multidão de turistas se aglomeravam nas calçadas caminhando para todos os lados. Nas casas, portinhas de madeira  davam acesso a lojinhas de suvenires, algumas entradas em arcos onde, ao entrar encontrava-se  uma mini feira. Placas nas portas dos restaurantes descreviam seus pratos para o almoço, mas ainda não tínhamos fome. Caminhamos até o final da Rua Triunfo e chegamos na famosa Hatunrumiyoc, onde carros eram impedidos de trafegar, construções altas e antigas faziam daquela rua um beco estreito onde entramos observando as paredes de pedras imensas encaixadas perfeitamente uma entre as outras.
Local da Pedra de Doze Ângulos
Olhei no mapa do meu smartphone e disse para a Nanda:
- Estamos perto da pedra.
Continuamos a caminhar naquele beco, olhando o extenso paredão de pedras, a Nanda caminhava na frente tentando localizar o ponto turístico. Perto de uma lojinha, que ficava do outro lado do beco, um senhor vestido com roupas indígenas tirava fotos com os turistas, nos aproximamos e percebemos que pra quem tirava foto com ele deveria pagar uma gorjeta, não achamos interessante e passamos direto. Foi então que algo que achei estranho aconteceu, percebi que as pedras eram muito bem polidas e resolvi passar a mão, mas assim que toquei em uma um guarda veio me reprimir:
- Não toque na pedra - Disse ele.
Fomos até o final da rua e quando olhei no mapa vi que o GPS indicava que tínhamos passado da tal Pedra de Doze ângulos.
- Ué? Onde esta essa pedra? - perguntei pra Nanda.
- Não sei. Já passamos dela?
- Sim. Pelo menos é o que diz o GPS aqui.
Resolvemos voltar então, procurando com mais cautela alguma porta que pudesse nos levar até a atração.
Rua Hatunrumiyoc da Pedra de 12 ângulos
No meio do caminho vimos vários turistas tirando foto em um ponto específico daquela parede de pedras, a atração que procurávamos fazia parte da parede e é uma pedra que tem 12 lados encaixados em outras pedras. Que mico. Acabou que nem tiramos fotos da pedra especificamente. Fizemos uma foto selfie e voltamos a procura de um bom restaurante para almoçarmos.
Caminhando entre as inúmeras lojinhas da rua Triunfo um lugar nos chamou a atenção, um restaurante onde vimos nas janelas algumas velas vermelhas em jarrinhos de barro, um lugar que se diferenciava da maioria dos restaurantes da rua, chegamos na porta de entrada e fomos recepcionados por um senhor, o letreiro acima dizia - Café e Restaurante LOS TOMINES - e ao lado da porta o menu principal escrito em um quadro de giz, mesmo assim o senhor nos ofereceu o cardápio e nos convenceu a conhecer a culinária de lá.
Janela do restaurante Los Tomines
Entramos naquele lugar agradável, muito bem recepcionados, sentamos em uma mesa ao lado da janela e o senhor nos ofereceu um drink de cusco gratuitamente, chamado de pisco sour, uma mistura com pisco, casca de limão e suco de limão, acompanhado de grãos de milho torrados e torradinhas.
Interior do restaurante Los Tomines
Drink Pisco Sour
Detalhes do Los Tomines
Arte na parede de Los Tomines

Resumo

Pontos turísticos visitados no dia

Plaza De Armas (Huacaypata)
Igreja Santa Teresa
Pedra de Doze Ângulos

Restaurantes

Café e Restaurante LOS TOMINES


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quarta-feira, 28 de junho de 2017

Trekking no Peru (Parte 1) - Cidade de Cusco

Em março de 2016, vislumbrei uma viagem diferente de todas que já havíamos feito, queria algo diferente, algo que ao mesmo tempo que fosse desafiador, fosse também apaixonante. Nunca tínhamos saído do Brasil, nunca havíamos acampado por por mais de uma noite, não éramos experientes, éramos apenas um casal de aventureiros a procura de novas descobertas.
Impulsionado por um sentimento que corre em nosso sangue e implora por liberdade, sentimento esse que vive aprisionado pela rotina diária de nossas vidas, comecei a expandir meu conceito de possíveis viagens. Sabia que o mundo que conheço não existe para grande parte da população mundial, somos aprisionados em uma ilusão de liberdade de uma realidade limitada à até onde nossa rotina nos permite ir. Nesse contexto, nossa essência humana fora cegada e domada para que pudéssemos viver em uma falsa felicidade. Mesmo assim, essa essência ainda sussurrava em nossos ouvidos e, levado por esses sussurros que me deparei com a aventura realizada pelo caminho Salkantay, no Peru, o qual nos levou a Machu Picchu.
Nesse post vou descrever todos os detalhes sobre essa viagem, sobre o sentimento de estar em outro país, sobre a longa trilha de mais de 80 quilômetros, os perrengues de chuvas, deslizamentos, cansaço, abelhas, mas também sobre as amizades que fizemos pelo caminho, os lugares deslumbrantes, o prazer da conquista e muito mais. Ao final, deixaremos um resumo com todas as dicas para aqueles que não tem paciência de ler.

Antes da Viajem

Essa seria a nossa primeira viajem no estilo mochileiros. Foi escolhida quase que por acaso, quando  procurava pela internet por uma experiência para ser feita fora do Brasil em nossas férias. Encontrei um site sobre Machu Picchu que descrevia vários tipos de trilhas que levavam até lá. Fernanda estava deitada no sofá, eu pesquisando no notebook na escrivaninha ao lado, foi quando olhei pra ela e perguntei:
- O que acha de uma trilha de 3 ou 5 dias para Machu Picchu?
Ela se assustou e me olhou desconfiada:
- Como assim?
Virei o notebook em sua direção e mostrei o site que tinha achado da agencia que fazia o percurso.
- Topa?
Segundos depois, com um sorriso ansioso, ela disse:
- Topo!
Foi ai que nossa aventura começou a se tronar real.
Pela internet, querida internet, pesquisei por agencias que ofereciam o trekking guiado, como era nossa primeira aventura mochileira essa escolha, a na minha opinião, era a mais sensata, pois quando falta experiência é melhor estar com pessoas experientes.
Pelo meu imaginário já começou a ser criado todo tipo de possibilidades dessa viagem, isso me fazia se debruçar ainda mais em pesquisas.
Nossas férias estavam marcadas para março e na primeira oportunidade de promoção de passagens aéreas para Cusco não hesitei em compra-las, mas havia um pequeno porém, não haviam voos com conexão direta do Brasil para Cusco, como também não encontrei voos diretos de Brasília para Lima na promoção. Eu queria gastar o mínimo possível para comprar as passagens aéreas, pois a minha intenção era ter uma boa quantia de dinheiro para usar no Peru, então, juntamente com a Nanda, escolhi um voo com conexões em São Paulo e Lima para o dia 1º de março.
Foram três meses de planejamentos, bem, não sei se é exagero nosso, mas não gostamos de pagamentos adiantados por passeios, então, quando encontramos uma agência interessante em Cusco (https://cuscoperuviajes.com) que organizava o trekking, enviei um e-mail solicitando todas as informações e pedindo para realizar o pagamento do passeio quando estivéssemos na cidade, tão logo a agencia nos respondeu e fechamos o pacote do trekking Salkantay e Machu Picchu em 5 dias com apoio de dois guias, barracas já montadas para dormir, café da manhã, almoço, janta e um burro para carregar até 5 quilos de nossa bagagem, incluía também uma diária em um Hostel de Águas Calientes, cidade situada ao pé da montanha de Machu Picchu, a entrada em Machu Picchu e a volta para Cusco de trem.
Com tudo programado, fomos na loja de artigos esportivos comprar nossas mochilas, escolhemos duas da Nord, uma de 75 litros para mim e para a Nanda uma de 65, compramos também dois sacos de dormir, também da Nord e a Nanda comprou um par de tênis de Trekking, também adquirimos algumas blusas, faltavam as jaquetas impermeáveis que encontrei online na loja da Decatlhon. Foram duas semanas para estarmos "preparados".
Fizemos o planejamento da viagem da seguinte forma: Chegaríamos em Cusco 3 dias antes do trekking, então precisaríamos nos hospedar em algum hostel, faríamos o trekking de 5 dias e ficaríamos mais 4 dias em Cusco. A decisão de chegar 3 dias antes foi para podermos nos ambientar a altitude e assim não nos sentirmos mau durante o trekking.
Como, por opção própria, nós não gostamos de pagar nada antecipado, procuramos no site boobking.com um hostel de Cusco que não cobrava nada antecipadamente, então encontramos a Casa Ananta, que fica próximo ao estádio, com um preço muito bom. Como tínhamos mais 4 dias em Cusco após a aventura, reservamos mais outro hostel, mais próximo ao centro e sem pagamento antecipado, o Mirador de Carmenka Santana, tudo pelo booking.com.

A viajem de ida

No dia primeiro de março de 2016 partimos para a nossa primeira viagem internacional como mochileiros, a ansiedade parecia eclodir de nossos corpos, mas nos mantínhamos centrados.
Uns dias antes da viagem, decidi por trocar o dinheiro que tínhamos em reais para dólares, pois, na época, o dólar estava valendo muito mais que a moeda brasileira e era mais valorizado que o real na moeda peruana, então procurei uma casa de câmbio onde consegui comprar dólares a R$ 4,10.
Nossa pontualidade nos fez chegar bem antes do horário, o aeroporto não estava cheio e o embarque foi bem tranquilo, nossa primeira para da seria São Paulo.
Chegamos em São Paulo por volta das 22 horas pelo aeroporto de Guarulhos, lá enfrentaríamos uma longa espera pela madrugada, pois o nosso voo para Lima seria as 7 horas da manhã. Foi a primeira vez que precisamos passar a madrugada em um aeroporto. Rodamos pelos seus extensos corredores, a medida que as horas iam passando o lugar parecia cada vez maior, o fluxo de pessoas foi diminuindo e o silencio começava a tomar conta, foram 9 horas de espera pela madrugada para pegar o voo para Lima as 7 horas da manhã, foi um longa e cansativa noite, mas o voo saiu no horário e assim que deu 7 horas da manhã já estávamos com as mochilas despachadas e sentados nos nossos assentos dentro do avião.
Lembro que antigamente, em voos de avião, a companhia aérea costumava servir um banquete durante a viagem, tanto as refeições quanto os lanches eram maravilhosos, hoje, apesar da viagem ter sido muito tranquila, o lanche que serviram, um mini pacotinho de salgados acompanhado de café, ou suco de caixinha ou refri, foi decepção.
Ao cruzar os ares de Lima perguntei para a Nanda que horas eram, ela olhou em seu relógio de pulso e disse:
- Duas da tarde.
Tomei um susto, tirei a passagem da conexão de Lima para Cusco do bolso da mochila e olhei os dados. Esqueci que havia fuso horário e o voo para Cusco saia de Lima as 14 horas, como que, antes de pousarmos em Lima, já eram 14 horas? - Perdemos o Voo? - Perguntei para Nanda, que me olhou assustada. Um pequeno frio na barriga surgiu, mas não nos preocupou muito, pois havíamos comprado as passagens com apenas uma companhia e se houvesse problemas nas escalas eles iriam nos colocar em outro voo. Descemos no aeroporto de Lima e corremos para pegar nossas mochilas e despacha-las novamente, nem deu tempo de conhecer a cidade. Foi ao chegar no guichê e entregarmos as passagens que percebemos então que não havia atraso nenhum, pois no horário local ainda eram 13hs, um alivio tomou lugar do frios na barriga.
Aeroporto cheio, pessoas diferentes, ar diferente, mesmo de olhos fechados podiamos saber que não estávamos em casa. A sensação é que cada país tem sua própria essência, sua própria vibe, uma energia diferente. O aeroporto de Lima é meio estranho, pois pra sair do guichê e ir para a ala de embarque nacional, tivemos que sair para o lado de fora e entrar no aeroporto novamente por outra porta. Dentro do aeroporto há uma cerca de ferro dividindo o imenso salão. Caminhamos para um ala menor do aeroporto, mais ao canto, onde era o portão de embarque para o avião que nos levaria a Cusco, gastei alguns dólares no aeroporto comprando algo para comer, pois o lanche que recebemos no voo anterior não fora suficiente, e então, aguardamos na fila conversando com um argentino que também estava indo conhecer Cusco.

1º Dia - Cusco

Olhando pela janelinha do avião vislumbrávamos as primeiras paisagens montanheiras de Cusco, faltava alguns minutos para pousarmos e a vista lá do alto já nos dava alguma ideia de como seria nossa aventura. Estávamos excitados com tudo aquilo.

Vista aérea do Peru
Ao descermos do avião e pegarmos nossas mochilas, a primeira coisa que procuramos foi onde trocar nossos dólares por soles - moeda local -, no aeroporto mesmo há uma casa de câmbio, que acreditamos ser a mais confiável, foi lá que fizemos nossa troca e acreditando que o dólar poderia subir de valor em relação ao sole não trocamos todo o dinheiro. Procuramos também local de informação turística para pedir informações básicas da cidade e um mapinha, o mapa da cidade é essencial para nós, pois não é sempre que o smartphone estaria disponível. Uma moça nos ajudou anotando no mapa os locais mais interessantes e também onde fica o hostel Casa Ananta, onde ficaríamos.
Saímos do aeroporto, era um dia muito quente, vários taxistas nos ofereciam seus serviços, nessa viajem percebemos que os perueños adoram negociar valores e fazem de tudo pra ganhar o cliente, não é diferente com os taxistas, mas para a tristeza deles somos mochileiros, analisamos o mapa e resolvemos ir a pé.
Aeroporto Nacional de Cusco
Não era um caminho longe, mas também não era perto, resolvemos ir andando para conhecer um pouco a cidade. Cusco é uma cidade bem peculiar, há muitas construções que não tem pintura externa, toda a cidade que não esta no centro histórico parece estar inacabada, na época que fomos o estádio ainda era um imenso esqueleto inacabado. Na verdade, a primeira ideia que tivemos, foi a de pegar um transporte público, chegamos a esperar um coletivo em uma parada suja na saída do aeroporto, mas após conversarmos, decidimos caminhar até o hostel.
Entrada para a cidade de Cusco
Mochilas na costas, pegamos o caminho pela extensa avenida Velasco Astete, sem googlemaps, fomos nos orientando da maneira antiga, pelo mapa de papel. O sol estava forte naquele dia, a rua parecia encardida, meus lábios sentiram o ar seco e começaram a rachar. Caminhávamos pelas calçadas e, a cada esquina, nos deparávamos com algum cocô de cachorro. Nenhum estabelecimento que víamos parecia se preocupar com limpeza do local, bem, não estávamos no centro turístico, estávamos vendo a Cusco real. Foram 5km de caminhada até o hostel, no meio do caminho nos deparamos com a concretização de algumas vias públicas, não sei se era uma reforma ou uma obra inicial, mas sei que o método deixaria qualquer obra de asfalto no Brasil com vergonha, na minha opinião aquela obra nunca mais iria precisar de reforma.
O primeiro hostel que ficamos ficava bem próximo daquilo que deveria ser o estádio. Pelo que me contaram lá,o Peru disputava com o Brasil para ser sede da copa do mundo de futebol de 2014, e eles estavam convictos da vitória, construindo antecipadamente alguns estádios de futebol, o de Cusco era um deles, ao perderem a disputa, as obras pararam e, até então, não tinham previsão de serem retomadas.
No Hostel, Casa Ananta, fomos atendidos muito bem, o local é um sobrado simples, mas bem organizado, valeu muito o preço, o pagamento seria feito no final da estadia. Enfim, estávamos em Cusco.
Vista da janela do quarto do hostel
Casas de Cusco, quase nenhuma com reboco ou pintura
Cidade de Cusco vista da janela do hostel
Para terminar o primeiro dia, tomamos um banho e saímos para procurar um lugar para lanchar.
O primeiro lugar turístico que conhecemos foi a Plaza Tupac Amaru, encontrada por acaso, andávamos pelas redondezas e avistamos essa praça com varias bandeiras e a homenagem a Tupac Amaru. Ficamos lá por alguns minutos, o frio começou a incomodar e então resolvemos procurar um restaurante, foi ai que, em uma esquina nada convidativa, nos deparamos com o restaurante Puntocoma, uma pequena porta de entrada com um tímido letreiro acima, bem rústico. Lá descobrimos que em Cusco quase todas as refeições tem batatas fritas (papas fritas), que a cerveja Cusquenha é bem saborosa e que o refri Inca Kola é mais vendido que a Coca Cola, a Nanda se apaixonou pelo refrigerante. Apesar do lugar bem simples e rústico, onde fumantes compartilham o mesmo espaço com não fumantes, é bem interessante, parece uma taberna, portanto não espere chiqueza, pois é praticamente um boteco. Jantamos, bebemos e fomos embora. E assim terminamos nosso primeiro dia.
Restaurante Puntocoma
Primeiro contato com Inca Kola
Cerveja de Cusco - Cusqueña

Resumo

Compras

Mochilas de viagem: Nord 65litros e 75 litros (Sem estoque)
( http://www.centauro.com.br/mochila-cargueira-nord-outdoor-65-litros-811868.html?cor=1B)
Sacos de dormir: Nord
(http://www.centauro.com.br/saco-dormir-nord-outdoor-rest.html?cor=04)

Agencias

Agencia de trekking - https://cuscoperuviajes.com

Hostels em Cusco

Casa da Ananta Family House - Booking.com - Calle Ramon Castilla 860 Wanchaq, 084 Cusco, Peru
http://www.familyhousecusco.com/
Casa Mirador de Carmenka Santana - Santana Hostel - Booking.com - Jr. Karmenqa 104 Cercado, Barrio de Santa Ana, Centro de Cusco, Cusco, Peru
http://www.santana-hostel.com/en/ 

Pontos turísticos visitados no dia

Plaza Tupac Amaru 

Restaurantes

Puntocoma

Dicas

  • Troque seu dinheiro na casa de cambio do aeroporto, pois é a mais confiável.;
  • Peça um mapa turistico da cidade no balcão de informações do aeroporto
Segundo dia (Clique aqui)

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