2º Dia - Cusco
Vale Sagrado
Após
nosso almoço, continuamos o passeio por Cusco, olhando o mapa
vimos que a fortaleza de Sacsayhuaman estava praticamente ao lado,
era só caminhar pela rua Calle Palacio e Pumacurco e estaríamos lá. Por
que não ir?
Começamos
a caminhar pela currutela Calle Palacio, de calçadas extremamente
estreitas e cercada por casarões antigos com restaurantes e lojinhas. No
meio do caminho encontramos mais uma capela chamada San Antonio Abad,
uma igreja menor que as outras que visitamos, mas mesmo assim muito
bonita, suas paredes rústicas feitas de pedras, a enorme porta de
entrada de madeira cravejada por pregos grandes, um estilo bem medieval
de construção. Estávamos na Plazoleta de las Nazarenas, foi lá que
conseguimos tirar uma foto de uma mulher peruana carregando flores
nativas nas costas para vender.
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Igreja San Antonio Abad |
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Vendedora de flores |
Ainda
faltava um longo caminho pela frente, o sol estava muito quente,
continuamos subindo a rua, sempre em frente, vez ou outra um carro
passava apertado pela rua estreita, nos fazendo se esgueirar na
minúscula calçada. A vantagem daquele caminho era que podíamos
aproveitar bem as sombras dos casarões enquanto subíamos o morro.
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Rua Calle Palacio |
Conforme
subíamos percebemos que os padrões de construção das casas foram decaindo
e que quanto mais caminhávamos para cima daquele morro, mais pobre
parecia o local.
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Bairro mais pobre da rua Calle Palacio |
Tínhamos
chegado no final da rua, onde encontramos um bar que era também um
mercadinho, ao chegarmos na rua de frente a entrada do forte encontramos
também lojinhas de suvenires. Subimos umas escadarias para chegar, só
faltava atravessar a rua e comprar nossos tickets de entrada, mas foi
nesse momento que fomos surpreendidos por um senhor que, dizendo ele,
tinha um passeio mais bonito e em conta. O senhor nos ofereceu um
passeio a cavalo com guia até o Templo da Lua (Templo de La Luna), ou Chukimarca, depois passaríamos pela Zona X, de lá iríamos para o Cristo Blanco e por fim terminaríamos em Sacsayhuaman,
tudo isso a um preço de 120 soles por pessoa. O homem foi tão
persuasivo que acabamos caindo em sua lábia e aceitamos o passeio.
Entramos em uma carro que estava estacionado um pouco mais distante da
entrada de Sacsayhuaman e ele nos levou até a entrada de uma chácara que
fica atrás das ruínas do forte inca. Ainda desconfiados, entramos na
chácara e encontramos mais turistas que compraram o mesmo passeio, lá
subimos em cavalos e conhecemos nosso guia, um garotinho que deveria ter
uns 15 anos de idade.
Subimos
por uma trilha de cascalhos, margeando eucaliptos a esquerda, em fila
indiana, a frente um grupo de turistas com sua guia e logo atrás nós.
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Trilha para o Templo de La Luna |
Cavalgamos
por algum tempo até encontrar uma rodovia, que estava um pouco
movimentada, carros e ônibus de turistas passavam com frequência,
aproveitamos um momento de calmaria e atravessamos com os cavalos
rapidamente, os animais eram bem calmos e já estavam acostumados com
aquele trajeto. Entramos em um campo verde do outro lado da pista e
cavalgamos seguido um córrego, a paisagem já se mostrava exuberante.
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Paisagem |
Era por lá que encontraríamos as ruínas do Templo de La Luna,
cavalgando por meio das planícies verdejantes vimos crianças brincarem
nas águas do estreito rio que nos seguia e a paz daquele local nos
contagiou. Paramos no meio do caminho, nosso guia segurou nossos cavalos
e disse:
- Chegamos!
Descemos dos cavalos, que foram soltos
para descansarem e enquanto caminhávamos em direção ao que restou do
templo, nosso guia correu para junto das crianças que brincavam na água
e, arrancando suas roupas no embalo, mergulhou em um poço. Olhamos para
frente e nos deparamos com um morro.
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Templo de la Luna |
Uma imensa rocha em meio ao campo verde, lá estava o templo de La Luna,
no Vale Sagrado Inca. Dizem que o templo era para fertilidade, onde as
mulheres que não podiam ter filhos vinham nesta rocha com a esperança de
voltarem a ser reprodutivas.
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Vale Sagrado |
Subimos a rocha por uma escadaria em ruínas, uma leve brisa nos
refrescava do calor, a paisagem nos acolhia, um sentimento de união com a
natureza a volta, ali nada tinha pressa, não havia preocupação, pude
vislumbrar a perfeição da natureza em sua totalidade.
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Templo de La Luna |
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Vista do Vale Sagrado a partir do templo |
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Ruínas atrás do templo |
Em baixo da imensa rocha, no seu centro, vimos uma passagem, nos pareceu
uma caverna, mas ainda não sabíamos do que se tratava. Estávamos diante
da entrada da câmara do templo, lá dentro apenas uma fissura no teto
permite a entrada de luz, dizem que no passado, no período de lua cheia,
quando a mesma se encontrava em uma posição específica, um feixe de luz
invadia aquela fresta e ia de encontro a uma mesa de pedra que era
recoberta de ouro, assim como todas as paredes, esse feixe de luz
refletia no metal dourado e iluminava toda a câmara com uma luz cegante.
A câmara representava um útero, a entrada era a representação da vagina
e aquela fresta no teto era a entrada da nova vida.
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Entrada da câmara do templo |
Olhamos aquela passagem sem saber do que se tratava. Fiquei curioso com
aquela caverna e chamei a Nanda para entrarmos. Não chegamos a conhecer o
significado da câmara, pois não tínhamos ideia de toda a história, nos
faltou um bom guia.
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Câmara sagrada do templo |
O tempo que ficamos no templo foi como uma renovação de energia para mim. Sentamos no que parecia ter sido um trono antigamente, ou um altar, e lá ficamos, contemplando a imensidão verde do Vale Sagrado, agradecendo pela oportunidade de estar lá para receber toda a quela energia invisível. As nuvens passeavam pelas nossa cabeças lentamente, a brisa soprava, balançando as flores que cresciam em meio as rochas, os animais ao longe pastavam tranquilamente e tudo estava em sintonia, podíamos sentir o sentido da vida.
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Em meio ao Vale Sagrado Inca |
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Em meio as ruínas do Templo de la Luna |
Nosso passeio tinha que continuar, então o guia mirim nos chamou, era hora de partir para outro lugar do vale. Montamos novamente nos cavalos e seguimos o caminho de volta, atravessamos a pista novamente e subimos um morro para chegarmos a Zona X. Descemos dos cavalos e seguimos o guia por uma trilha rumo ao topo do morro de rochas, o garoto nos contou sobre as cavernas da Zona X, sobre as passagens subterrâneas que chegavam até o centro de Cusco, sobre homens a procura de ouro que se perderam e varias outras lendas, mas o que ele não nos contou era que a Zona X foi provavelmente um local onde os Incas extraiam vários blocos de pedras para construir Sacsayhuaman. Entramos em uma das cavernas com ele, caminhando por labirintos de rochas e passando por frestas estreitas, não vimos o trabalho dos incas naquelas rochas, não conhecemos onde foi o possível local de extração das rochas, apenas passeamos pelas cavernas do local.
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Entrada da caverna da Zona X |
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Passagem da Zona X |
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Zona X |
Ficamos por um tempo no topo da Zona X, vislumbrando a maravilhosa vista do Vale Sagrado, era impossível estar lá e não sentir toda aquela vibração de energias boas. Senti que o lugar era realmente místico.
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Topo da Zona X |
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Vale Sagrado visto da Zona X |
Não conhecemos o bastante do Vale Sagrado Inca, ele é muito mais do que o vale da lua e a zona x, mas o pouco que vivenciamos naquele lugar foi maravilhoso, a paz que foi transmitida para nossos corações era transcendente. Saímos do Vale a cavalo, cavalgando de volta a trilha de cascalho para a chácara onde iniciamos o passeio, mas ainda faltava dois pontos prometidos.
Entramos no veiculo que nos levou até lá e seguimos por uma estrada de terra, estávamos a caminho do Cristo Blanco, foi ai que fomos abandonados pelo caminho. O motorista estacionou na beira da pista, abriu a porta e disse em espanhol:
- Daqui pra frente é só seguir a pé que vocês chegarão ao Cristo Blanco.
Olhei ao longe e perguntei:
- E para chegar em Sacsayhuaman? Como fazemos?
- Fica do lado. - Disse ele.
E assim o motorista no deixou lá e foi embora, o contrato de serviço acabara ali. Caminhamos por um bom trecho até chegarmos no morro do Cristo Blanco.
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Morro do Cristo Blanco |
De braços abertos para a cidade de Cusco vimos uma imensa estátua de 8 metros de altura do cristo, bem parecida com o cristo redentor do Rio de Janeiro. Fiquei sabendo depois que ela fora construída por um artista local chamado Francisco Olazo Allende. Em cima do morro chamado de Pukamoqo, onde na cultura inca é um morro sagrado que guarda todas as terras do império tawantinsuyano, o Cristo Blanco se encontra de braços abertos ao povo de Cusco.
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Cristo Blanco |
Mais uma vez tivemos a oportunidade de visualizar toda a cidade de Cusco, agora do alto do mirante do Cristo Blanco.
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Cusco vista do alto |
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Um morador local com seu instrumento musical |
Após um bom tempo apreciando a vista da cidade, resolvemos descer para a fortaleza de Sacsayhuaman, que se encontra ao lado do Cristo Blanco. Vimos uma trilha ligando o morro à fortaleza e pensamos que por aquele caminho entraríamos normalmente sem ser cobrados, pura ingenuidade. Começamos descendo o morro pela trilha, fugindo de alguns cachorros que brincavam por lá, a Nanda estava com medo deles, assim chegamos no imenso paredão de pedras de Sacsayhuaman, onde largo caminho de pedras nos levou até o topo de entrada do forte, onde fomos abordados por um guarda pedindo os bilhetes de entrada, nesse momento percebemos que havíamos sido enganados e que aquele caminho, apesar de se conectar com Sacsayhuman, não nos poupava de pagar para visitar o local. Como não tínhamos dinheiro suficiente, fomos obrigados a voltar para Cusco sem conhecer a famosa fortaleza de Sacsayhuman.
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Entrada de Sacsayhuman |
No fim do dia nos restou passear mais pela cidade e conhecer outros locais.
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Currutela sem saída na parte pobre de Cusco |
Começamos por onde estava mais próximo, que era a Igreja de San Cristobal, localizada na parte alta de Cusco. A igreja é linda e sua localização privilegiada, da praça de San Cristobal, que fica em frente a igreja, tivemos a oportunidade de apreciar a cidade novamente do alto e tirar várias fotos.
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Construção Inca preservada na praça San Cristobal |
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Vista do mirante de San Cristobal |
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Mirante de San Cristobal |
Não entramos na igreja, pois gostamos mais das paisagens de fora e, não me lembro muito bem, mas acho que pelo horário as visitas já tinham se encerrado.
Após conhecermos o mirante de San Cristobal, começamos a descer as escadarias de volta ao centro turístico de Cusco. Vimos vários mochileiros subindo as escadas com suas mochilas pesadas nas costas, havia uma japonesa que sozinha carregava uma mochila maior que ela, e sofrendo, vagarosamente subia degrau por degrau.
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Escadarias da cidade de Cusco |
No fim da noite jantamos em um restaurante, novamente papas com carne, onde pagamos barato, pois o dinheiro que havia trocado no aeroporto foi pouco, então tivemos que economizar na comida.
A noite esfriou o tempo, sem o sol o frio predominava, então terminamos a noite fria passeando pelos arredores do centro turístico da cidade antes de voltar para o hostel.
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Igreja de La Compañia de Jesus |
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Convento de Santo Domingo |