sábado, 11 de julho de 2020

Trekking no Peru (Parte 8) - A Chegada em Machu Picchu

5º Dia de Trekking

Subir, subir e continuar subindo...

09 de Março de 2016

No dia anterior fui dormir com uma pulga atrás da orelha, fiquei pensando que, como acordaríamos as 4 da manhã para iniciar o último trajeto até a cidade arqueológica de Machu Picchu, então iríamos caminhar no escuro, mas nós não tínhamos lanternas. Como será que faríamos?
O dia chegou, as 4 horas da manhã já estávamos no saguão do hostel preparados para caminhar. Pudemos deixar nossas bagagens no quarto, pois o horário limite para o check-out era até as 12hs. Nossas jaquetas tinham secado então resolvemos leva-las, Nanda preferiu usar a mesma calça de todos os dias e eu coloquei uma jeans, como estava muito cedo, ainda estava frio e a Nanda decidiu vestir, além da jaqueta, uma camiseta térmica de manga longa, além de tudo isso não poderia esquecer de levar minha bolsa com a máquina fotográfica.
Saímos do hostel sob a escuridão da noite onde apenas as luzes amarelas da cidade iluminavam nosso caminho, andamos pela rústica e deserta civilização a caminho da fronteira de Machu Picchu, fomos alertados para deixar o passaporte em um local de fácil acesso, pois ele seria solicitado na travessia da ponte.
Assim que descemos por uma pequena escadaria e começamos a caminhar na estrada de terra batida, deixando a cidade para trás, nos demos conta de o quanto era importante ter um lanterna, pois estávamos entre montanhas imensas cobertas por florestas, a escuridão era assustadora, só se via o brilho das lanternas dos que nos acompanhavam, tentei usar a lanterna do celular para nos ajudar a não tropeçar em alguma pedra, mas sua luz não era suficiente, nesse momento ficamos tensos ao pensar em como subiríamos a montanha na escuridão. Vendo nossa dificuldade de acompanhar o grupo, nossa nova amiga Natalia se aproximou com sua lanterna em mãos e iluminou o caminho, nos dando um alívio.
Caminhamos juntos por uma pelo mesmo caminho que chegamos no dia anterior, deixando a cidade para trás, aos poucos outras pessoas começaram a aparecer e se aglomerar ao grupo, começamos a contornar uma montanha quando vimos postes de luz e a ponte de travessia, vimos também uma fila que já se formava em frente a uma guarita, era ali que esperaríamos.
O portão abria as cinco da manhã e ainda eram 4:30, a fila já estava um pouco grande e todos estavam muito animados.
- Será que é aqui que carimbam nosso passaporte? - Comentei com a Nanda.
Ficamos sabendo que, aos que entram em Machu Picchu, é disponibilizado um carimbo no passaporte registrando que estiveram lá, nós queríamos muito ter esse souvenir no nosso.
Começamos a ver os primeiros da fila atravessando a ponte, eram 5 horas da manhã. Os que solicitavam acesso apresentavam o passaporte e eram liberados e assim a fila ia andando. Não parecia que estavam carimbando passaportes ali naquela guarita. Do outro lado da ponte uma montanha imensa se apresentava gradualmente conforme o dia nascia, sabíamos que a caminhada seria dura e que precisaríamos de folego, por isso nem cogitamos seguir Zanda e seus amigos novamente, desta vez o grupo era apenas nós dois e Natalia enquanto a escuridão dominasse.
Confirmamos, ao atravessar a ponte, que não era naquela passagem que nossos passaportes ganhariam o registro que tanto esperávamos e começamos a subida seguindo inicialmente a mesma estrada que vans e mini ônibus seguem levando os menos aventureiros e preparados a Machu Picchu, mas foi por pouco tempo, pois logo na primeira curva entramos por uma trilha em meio a floresta fechada que vestia a montanha. A trilha já começava bem íngreme e já não víamos Zanda por perto, do jeito que ela era devia ter subido como um foguete na nossa frente, seguimos com Natalia nos guiando com sua luz, foram 100 metros até encontrarmos a estrada novamente, cruzaríamos a estrada mais algumas vezes a medida que íamos subindo, pois enquanto a trilha para subir a pé era quase em linha reta, a estrada era mais longa e em ziguezague até o topo.
O dia começou a clarear e nos revelar particularidades daquele caminho, não era exatamente em linha reta e em alguns pontos era preciso utilizar as mão para subir mais, a mata fechada na maior parte do trecho impedia que víssemos o céu. Assim que nossa visão começou a identificar por onde andar sem a ajuda da lanterna, Natalia foi ficando para trás e nós fomos avançando com mais velocidade, o coração pulsava freneticamente, mas tínhamos folego e não diminuímos o ritmo. Em alguns pontos havia uma pequena clareira, com locais para descansar, passamos por alguns até encontrar nossa colega Zanda sentada com a respiração ofegante, já não tinha folego para continuar subindo e ficou para trás, nem acreditei que ali, naquela montanha, teríamos mais resistência que ela.
Não tirei uma foto sequer da subida a Machu Picchu, o foco era chegar logo, então não paramos em nenhum momento, mesmo assim levamos uma hora em todo o percurso até encontrarmos com o restaurante que fica na segunda entrada do sítio arqueológico. Ali a trilha acabava no encontro com a estrada, já estava claro e cheio de turistas que vieram trazidos pelos mini ônibus.
O nosso grupo se reencontrou na praça de entrada, onde filas se formavam para conseguir pegar ingressos, mas nós não precisávamos enfrenta-la, pois fazia parte do pacote recebermos nossos ingressos dos guias da agencia. Só precisamos aguardar o Marcos resolver todos os tramites e entregar nosso tickets, entrada liberada, pegamos uma fila rápida e logo todos estavam seguindo Marcos, seria o último tour guiado por ele.
Entrada de Machu Picchu

Machu Picchu, enfim chegamos. Foram 5 dias de caminhada intensa para estarmos aqui, andando pelas escadarias de uma antiga cidade Inca que, sabe lá Deus como, foi construída no topo desta montanha. Se para nós turistas, chegar aqui, andando por trilhas já demarcadas, caminhos já abertos, trechos acessíveis, foi um sacrifício, como será que os Incas decidiram subir em uma montanha específica, no meio da floresta fechada e construir uma cidade inteira? Como que, em um local tão alto e distante do rio, sem ferramentas atuais, esse povo planou o solo, talhou milimetricamente pedras imensas para que se encaixasse umas nas outras, as empilhou para levantar moradias e templos? Será que essas pedras foram retiradas da montanha? Será que eles tinham a capacidade de subir com elas? Impossível para minha cabeça, eu mal consegui subir carregando meu próprio peso. Que insano tentar imaginar algo inimaginável.
Seguimos Marcos pelas currutelas de Machu Picchu, existia uma ordem de onde podíamos andar e que caminho seguir, não podíamos ir e voltar por um mesmo trecho. Aquele era nosso ultimo tour com o guia, confesso que, apesar de que em cada ponto que passávamos Marcos contava alguma coisa, me recordo de praticamente nada do que ele disse, não sei se era por causa do meu péssimo espanhol, por causa do meu deslumbramento do local, ou por falta de interesse mesmo. Todo local que meus olhos direcionavam era uma descoberta magnifica.
Ruínas de Machu Picchu

Não tenho a intenção de contar o que foi Machu Picchu, nem de explicar a história do local, como que tirando de algum lugar o texto e postando aqui. Vou contar minha experiência de estar lá e as coisas que ouvi do nosso guia.

Haviam muros onde as pedras não eram encaixadas com perfeição, mas eram tão bem alinhados, que dava para perceber que era intencional eles serem construídos daquela forma, eram as paredes mais baixas da cidade, as que ficavam próximas aos campos de plantação, mas a medida que subíamos já era notável que as paredes tinham um tratamento diferente, lisas e encaixadas milimetricamente como tijolos, exatamente onde eram os templos e moradias dos nobres.
Caminhando pelos trechos de plantação de Machu Picchu

Começamos por baixo, conhecendo primeiro os campos de plantação, eram campos curtos de 5 a 6 metros, uma técnica de construir campos em degraus, seguindo a montanha, planava uma pequena área e no final construía uma parede de perdas de dois metros abaixo e depois construía outro campo. Depois de conhecer como os Incas plantavam, fomos subindo para explorar  suas moradias. Os cômodos não eram grandes, mas o acabamento era bem feito, onde usaram pedras mais bem trabalhadas do que nos muros do campos.
Entrada das moradas Incas

Níveis de construção

As moradas ficavam abaixo dos templos, as ruínas pareciam labirintos, entrávamos em uma porta e seguíamos para sairmos em outro local desconhecido, um campo, ou um mirante, sem volta. Marcos no guiou por dentro das casas, por caminhos que era como trincheiras, subimos escadas, descemos, atravessamos pequenos cômodos, para enfim chegar aos templos.
Vista do templos

Parede de um dos templos Inca

Lá ele nos apresentou o relógio Inca do sol, uma pedra esculpida de tal forma que era possível identificar com precisão as quatro estações do ano, ele nos contou muito sobre essa pedra mística e a relação dos Incas com o celestial, mas já não me recordo de muita coisa. Tudo que ficou como lembrança gravada em mim foram os sentimentos, aquele templo me trazia inexplicáveis sentimentos que, com certeza, provava que era um local místico sagrado.
Intihuatana - Relógio do Sol

Se alguém que já esteve em Machu Picchu e estiver lendo este relato, conseguir transcrever em palavras o que é esse sentimento que temos ao estarmos lá, algo que essas imagens não mostram, por favor, poste aqui.
Vista do segundo lado de Machu Picchu

Campos de Machu Picchu

Foram tantos lugares apresentados pelo nosso guia, que apenas recomendo que vão, tenham essa experiência, com certeza é a melhor forma de entenderem o que escrevo aqui.
Seguimos pelos campos para a segunda parte da cidade e seu segundo templo, o principal. Uma área bem maior, onde parecia que os Incas se reuniam em cerimonias. Ali havia uma construção diferente, com três paredes bem trabalhadas e com uma imensa pedra retangular entre elas, era o Templo Sagrado Principal. Foi nesse templo que Marcos se despediu de nós agradecendo por mais aquela aventura que experimentou.
Templo Sagrado

Ele nos mostrou as ultimas curiosidades do local, como a rocha que tinha a forma quase que exata da montanha de Machu Picchu.
Rocha parecida com uma maquete de Machu Picchu

Ali nos despedimos de todos do grupo. Ficamos contemplando as paisagens enquanto cada um tomava seu rumo, se dispersando e se misturando a multidão de estranhos turistas, já não reconhecíamos mais nenhum rosto a nossa volta, era somente eu a Nanda e Machu Picchu, como se estivéssemos chegado lá sozinhos.
Vista das montanhas ao redor de Machu Picchu

Ainda tínhamos um ticket para subir uma das montanhas da cidade, pois de cada lado do sítio arqueológico há uma grande montanha. Em uma ponta a montanha de Huayana Pichu se porta majestosa, onde para se chegar em seu topo dizem que se deve passar por um trecho muito perigoso. Na outra ponta a montanha de Machu Picchu, a mais alta, de onde todos tiram aquela foto bonita pegando todo o sitio arqueológico, era essa o nosso destino.
Machu Picchu

Huayana Picchu

Como estávamos mais próximos de Huayana Pichu, tivemos que voltar atravessando toda a cidade novamente, podendo assim apreciar com mais calma cada construção, como as entradas das casas mais altas, com seus nichos nas paredes.
Construções Incas

Passeamos pelas ruas entre muros de pedras, onde a Nanda por diversas vezes era flagrada apreciando a vista, divagando sobre todo o mistério daquele lugar.
Ruas de Machu Picchu

Encontramos llamas pastando nos campos verdes onde os Incas costumavam plantar. Elas passeavam tranquilas como donas do pedaço.
Llamas

O dia estava ensolarado, nada cansativo. A Nanda estava com a calça da trilha, que virava bermuda e era bem fresca, só que eu, como tinha decidido ir de calça jeans, estava com muito calor, mesmo sem utilizar minhas jaquetas.
Caminhando por Machu Picchu

Subimos de volta para a primeira parte da cidadela, seguindo o caminho para chegar a montanha Machu Picchu. Uma llama branca apreciava a vista dos antigos campos de plantação, onde era cultivada a alimentação para todo aquele antigo povo.
A montanha de Machu Picchu não é a mais famosa, mas é a mais alta e é de lá que os fotógrafos tiram a famosa foto da cidade perdida.
Ao voltarmos para o topo da escadaria onde eram cultivados os grãos de Machu Picchu , seguimos um trecho até encontrarmos a entrada da montanha. Uma pessoa recebeu nossos tickets e nos liberou para seguir uma escada larga de pedras que esgueirava a montanha. Seguimos, inocentes de que éramos mais que preparados para chegar ao topo sem muita dificuldade. O inicio da escadaria era bem sombreada e seus degraus eram bem largos, nunca podíamos enxergar o final, pois a subida não era linear e fazia várias curvas.
Início da subida a Montanha Machu Picchu

Não consegui contabilizar quantos degraus tivemos que subir para chegar ao topo, mas sei que foi a subida mais cansativa de toda a caminhada. A cada curva que chegávamos pensando que era o final nos decepcionávamos com mais subida. Sentamos várias vezes para descansar, onde observávamos a paisagem longínqua dos rios e do verde.
 Vista de Machu Picchu

Quanto mais subíamos, mais ampla ficava a vista da cidade perdida. Levamos uma hora para alcançar o cume da montanha e ao chegarmos as nuvens podiam nos tocar, um vento gelado soprava e a sensação da presença divina era mais intensa. O ar mais húmido aliviava um pouco o calor, não haviam muitas pessoas, mas a quantidade lá era mais que suficiente, alguns descansavam em baixo de uma pequena oca de palha, outros sentavam em pedras na beira da montanha em frente a vista mais conhecida na revistas de viagens.
Tomo de Machu Picchu
O Topo e a Vista

Lá no alto, pessoas tiravam fotos, admiravam a vista, liam livros e relaxavam. Era possível ficar lá por horas, uma paz dominava por ali, me sentia em um lugar sagrado. Ficamos lá por muito tempo, mas não me lembro quanto tempo foi, só posso dizer que desci daquela montanha renovado, mas sem esquecer o sofrimento que foi subir.
Paisagem

Ir embora foi muito mais rápido do que chegar e mais triste, pois nossa aventura estava no fim. Em muitos momentos o silêncio da partida nos dominava e do mesmo jeito que fomos, nós voltamos, a pé para Aguas Calientes.
Homenagem ao descobridor de Machu Picchu

No fim do passeio voltamos para Aguas Calientes, almoçamos em um restaurante com vista para o rio Urubamba, com suas águas revoltas e barrentas. Passamos o resto do dia curtindo a cidade até a hora de pegarmos o trem para irmos até Ollantaytambo e de lá seguirmos de micro ônibus até Cusco.
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