quarta-feira, 15 de abril de 2020

Trekking no Peru (Parte 7) - Rumo a Aguas Calientes

4º Dia de Trekking

Entre Sol e Chuva

08 de Março de 2016

O dia amanheceu com o céu praticamente limpo. Levantamos por volta das 7 horas da manhã, nosso destino estava mais próximo. Aquela noite fora a última dentro de uma barraca. Seguimos a mesma rotina das manhãs anteriores e naquele dia já descemos com nossa mochila pronta. Após o lanche da manhã saímos para a frente do prédio e sentamos nos banquinhos de madeira onde havia ocorrido a festa da noite passada. Quando todos estavam reunidos, nosso guia Marcos nos trouxe as opções do dia:
- Agora, daqui, vocês tem duas opções para chegar até a usina. Uma van poderá leva-los, por um valor adicional, ou vocês podem ir a pé. São mais 10 quilômetros de caminhada por estrada de terra.
Todos se olharam e aos poucos cada subgrupo foi tomando a sua decisão. A Zanda e seus 3 amigos na hora decidiram que iriam a pé, juntamente com eu e a Nanda, pois nosso objetivo era chegar em Machu Picchu caminhando, mas o resto do grupo escolheu a van. Assim o Marcos, que não estava muito bem desde do ataque de marimbondos, resolveu que acompanharia o grupo na van enquanto a nossa guia, que até hoje sinto vergonha de não lembrar seu nome, iria acompanhar o pequeno grupo a pé.
Último camping

Era por volta das 9 horas da manhã, o sol naquele dia vibrava com sua luz, poucas nuvens passeavam pelo céu azul. Vimos praticamente todo o grupo entrar na van rumo a hidroelétrica Machu Picchu, enquanto nós, seis trilheiros e uma guia, estávamos prestes a caminhar 10 quilômetros até nos encontrar novamente. Ainda bem que o Marcos ainda havia deixado seus bastões com a Nanda.
Com nossas mochilas prontas em nas costas iniciamos a penúltima jornada, a princípio todos juntos, descendo o morro em direção a outra ponte da cidade, a única que resistiu ao temporal passado. Assim que atravessamos aquela ponte, Zanda perguntou para a guia se seu grupo poderia seguir em um ritmo mais forte, a guia não viu problema e deixou. Eu e a Nanda até tentamos acompanhar por um tempo, mas o sol já começava a castigar e nós não aguentamos as passadas frenéticas, então aos poucos eles foram se distanciando e nos deixando cada vez mais para trás. Nós nos separamos do grupo da Zanda, que foi na frente, e da nossa guia, que foi ficando para trás. Aquela caminhada era só nossa, seguindo uma estrada de terra branca batida, beirando o rio  Urubamba. A luz do sol fazia brilhar a grama verde das montanhas e a sombra das nuvens a apagava, naquele dia não precisamos de blusas e jaquetas, o calor a cada minuto que passava ficava mais forte.

Caminhada Rumo a Hidroelétrica

Foi uma caminhada de aproximadamente 10 quilômetros debaixo de um sol que não deu uma trégua sequer, todo o caminho era pela estrada de terra, não havia trilha, não havia sombras. Aos poucos nossa guia ia sumindo no horizonte atrás de nós e já não avistávamos o grupo da Zanda, então por um tempo seguimos a estrada sem ter certeza de que estávamos no caminho certo.

Vídeo com um trecho do trekking

Na metade da caminhada encontramos a saída de água da hidrelétrica que fica dentro de uma das montanhas, uma abertura na rocha sólida por onde um filete de água descia. Não encontrei muitas informações sobre esta hidrelétrica.
Saída de água da hidrelétrica

O trecho ficou confuso quando chegamos na segunda ponte do trajeto, estávamos sós e existia uma bifurcação no caminho, uma estrada para a esquerda e outra menor para a direita. Paramos e tivemos que esperar nossa guia aparecer e, debaixo daquele sol brilhante, eu quase entrei em uma cachoeira que encontramos bem próxima a ponte. A guia demorou a aparecer e nos deixou preocupados, será que ela tinha desistido e nós estávamos por nossa conta? Será que ela se machucou? Por que demorava tanto?
Todos nossos medos desapareceram quando a vimos no horizonte da estrada caminhando vagarosamente. Estávamos quase chegando na hidrelétrica, a guia nos indicou seguir pela estrada a esquerda e então encontramos mais a frente os portões de entrada onde caminhamos seguindo os trilhos de trem até um restaurante bem simples que se escondia em meio a mata fechada.
Inicio dos trilho de trem

Ali no restaurante encontramos Zanda e seus amigos novamente, sentados em uma das longas mesas que se espalhavam pelo pátio forradas com toalhas típicas peruanas, encontramos também gatos descansando em cima delas, com cores e manchas bem peculiares. Vimos dois filhotinhos de uma cadela procurando carinho de todos que se aproximava, como ainda eramos os primeiros a chegar é claro que eles vieram a nós.
Gatos

Filhotes

Enfim tínhamos terminado a primeira parte da caminhada. Aquele dia a Nanda tirou uma foto minha com os filhotinhos no colo e quando vi percebi o quanto tinha emagrecido devido as caminhadas exaustivas.
Filhotinhos
Passamos tempo suficiente ali para recarregar as baterias e nos preparar para os últimos quilômetros de caminhada. Estávamos quase de saída quando fui perguntar quanto custava um garrafa de água no restaurante, pura perda de tempo. O que nos impressionou, inclusive em todo o trajeto, foi o valor cobrado por uma garrafa de água, sempre era de 10 soles para mais, ainda bem que fomos repondo o nosso cantil nos campings, mas nunca tivemos a coragem de comprar uma garrafa sequer pelo caminho.
- Vamos? - Perguntou Marcos a todos do grupo.
Colocamos as mochilas nas costas e seguimos nosso guia por uma trilha que saia por trás do restaurante. A formação sempre era a mesma, o grupo da Zanda seguia com o Marcos puxando um ritmos mais forte e os outros iam seguindo em grupos menores. Foi a partir daquele ponto que a Nanda decidiu que não ficaríamos atrás da Zanda, que nosso ritmo seria o mesmo que o deles, foi uma caminhada que mais parecia uma corrida para mim.
Cruzamos uma pequena área de mata mais fechada e encontramos os trilhos de trem por onde seguiríamos até chegar em Aguas Calientes.
Trekking pelos trilhos de trem

Esse último trajeto foi um dos mais bonitos de se caminhar, pois a mata era mais densa e as paisagens peculiares e maravilhosas. De tempos em tempos encontrávamos com algum trem que levava seus passageiros, menos dispostos a andar, a cidade de Aguas Calientes, a última parada para todos que desejavam conhecer Machu Picchu.
Trem para Aguas Calientes

No início até ficamos distante do primeiro grupo. Acabamos por usar o tempo que tínhamos para contemplar as paisagens e tirar fotos. Passamos debaixo de viaduto de trem, atravessamos o rio Urubamba por uma ponte de ferro. O tempo estava nublado e já não podíamos ver o sol, isso tornava a caminhada menos cansativa.
Trecho no trilhos do trem

Ponte que atravessa o rio Urubamba
Rio Urubamba

Quando estávamos na metade do trajeto, nosso guia resolveu parar em um tenda improvisada na beira dos trilhos, onde eram vendidos lanches e bebidas, para podermos descansar um pouco. Eu, como carregava uma mochila enorme, não perdi tempo e já a retirei das costas para aliviar o peso.
Aos poucos o grupo foi se formando novamente, até estar completo com a nossa guia de batedora. Naquele momento em que todos estavam relaxando começou a chuviscar, foi a deixa para continuarmos a caminhada, mas antes, envolvemos as mochilas com a capa de chuva e colocamos nossas jaquetas.
- Dessa vez não vamos ficar pra trás! - Comentou a Nanda comigo, se referindo a Zanda e seus amigos. Ali deu início a uma competição particular.
O grupo começou a se deslocar, Zanda e seus amigos seguiram com o ritmo forte junto a Marcos e nós acompanhamos. A chuva começou a engrossar, mas a Nanda não diminuiu sua passada, seguiu firme, nem parecia que tinha bolhas nos pés. Fomos em um ritmo tão intenso que as vezes tinha a sensação de estar levemente correndo. Nos últimos quilômetros a chuva já estava bem forte e meus pés queimavam, minha mochila ficou mais pesada por conta da água e meus passos mais lentos, ainda bem que ao longe já dava para ver a estação de trem, um local bem rustico de desembarque de passageiros, com uma plataforma de cimento e mais nada, quando chegamos foi necessário esperar os outros para seguir em frente, pois o caminho não seria mais pelos trilhos.
Descemos por uma trilha atrás da estação e encontramos uma estrada de terra por onde seguimos, ainda debaixo de chuva, por mais 2 quilômetros até chegar em Águas Calientes, ensopados, sujos e suados, minha jaqueta por dentro estava mais molhada de suor do que por fora molhada de água, estávamos exaustos quando chegamos no hotel.
O primeiro local que não dormiriamos em barraca, tínhamos escolhido ficar em um quarto a sós, mas se não nos atentassemos teríamos ficado em um quarto compartilhado com mais pessoas. O local era um prédio que estava com andares inacabados, o nome era Hospedaje Eco Mapi, que se encontrava próximo a Plaza Manco Capac que abriga a estátua Machu Pichu Pueblo. Tinha uma entradinha escondida entre restaurantes onde ficava o pequeno saguão de recepção, lá recebemos as chaves dos nossos aposentos e então pudemos subir as escada ao lado do balcão.
Nosso quarto era no terceiro andar do prédio, subimos por uma estreita escada onde não passavam mais que duas pessoas por vez, no piso que ficamos tinha uma varanda interna onde era possível ver o andar de baixo, que tinha um banheiro sem teto, coisa mais estranha. Nosso quarto até que era muito bom, espaçoso e com banheiro. Depois que chegamos foi preciso estender nossas roupas no chão para que secassem um pouco, as jaquetas estavam com um cheiro forte de suor, assim como todas as roupas que estávamos usando naquele dia.
Tomamos o melhor banho da nossa vida, depois de 4 dias se limpando com lenços umedecidos, uma ducha forte de água quente que lavava e levava toda a sujeira acumulada em nossos corpos, nos trouxe uma sensação de alivio completo.
Relato do 4º dia
Para finalizar esse dia fomos a um restaurante muito legal que fazia parte do pacote que adquirimos, pena que não me lembro mais o nome do estabelecimento, mas lembro que, guiados pelo Marcos, saímos do hostel e caminhamos pelas currutelas de Águas Calientes, atravessamos o rio que corta a cidade por uma ponte de nome Sinchi Roca até chegarmos na rua Imperio de Los Incas, onde os pedestres dividiam espaço com os trilhos de trem que atravessavam o povoado. A noite estava linda e a cidade também, toda iluminada, mostrando seu estilo rustico e requintado ao mesmo tempo. Foi um ótimo final de dia.
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